terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

...é só fechar os olhos

Está voltando à minha rotina assistir ao inesquecível “Castelo Rá-tim-bum”. Descobri que todos os dias esse programa, que tanto preencheu meu tempo na infância, é passado na Tv Brasil. Voltei a assistir, primeiro, pelo ar saudosista de rever algo que foi tão marcante há alguns anos. Mas logo me dei conta do quão rico é o mundo deste castelo.
Depois de ser envolvida por desenhos estrangeiros, por novelas previsíveis, por filmes enlatados, é chocante me deparar novamente com “Castelo Rá-tim-bum”. Vi as poesias ganhando forma na voz do gato da biblioteca, ouvi o som dos instrumentos vindo dos passarinhos: “que som, que som é esse? Quem sabe o nome dele?”, exercitei minha memória com as fadinhas do lustre...
Como esquecer os infindáveis “por quês?” do Zequinha? Daí, dei de cara com Marcelo Tas, bem mais novo, contestando que um “porque sim não é resposta” e de forma descomplicada respondendo o que o garotinho tanto queria saber.
“Castelo Rá-tim-bum” não tem episódios novos. Ficou tudo como foi feito na década de 1990. Porém, traz a abordagem pedagógica de temas atemporais. Impressionou-me ver conceitos ligados à ecologia, política, cultura popular ganhando vida naqueles coloridos cômodos. Foi mais incrível ainda, perceber que não há maldade, intrigas, inveja naquelas personagens. Morgana é uma bruxa que não faz mal algum: passa o tempo contando suas histórias de séculos vividos. O Mau é um monstrinho que, no máximo, dá uma gargalhada teoricamente fatal. O Porteiro é um amigo que só cobra dos outros a senha do dia. E o Dr. Abobrinha não passa de um aprendiz de vilão – só agora, me achando gente grande, é que percebi que este aí representa a especulação imobiliária. Os olhos mudaram.
Penso, às vezes, como essas crianças de hoje - e até mesmo minha geração - não seriam “mais saudáveis” crescendo com esses programas. Ao invés de verem na tela colegas de turma tramando contra os outros, veriam a Caipora contando suas aventuras na selva; no lugar de assistirem precocemente os namoricos repetitivos, teriam Nino e sua turma povoando seus fins de tarde. Escutariam a voz de Arnaldo Antunes chamando para lavar as mãos, outras vozes mostrando como se faz algum objeto do nosso cotidiano ou mesmo cantariam junto com o ratinho tomando banho.
Fico assistindo e contemplando. Como é bom ainda ver o delicioso “Castelo Rá-tim-bum”. Ontem mesmo apareceu o Etevaldo. Saudades desses visitantes incomuns. O extraterrestre fez com que toda a turma de amigos do castelo fosse passear pelo espaço. E isso numa nave sem motor! O segredo, Etevaldo contou para todo mundo, mostrando o porquê de “Castelo Rá-tim-bum” ser uma maravilha em meio à programação brasileira. Ele disse: “vamos usar a força do pensamento”. As crianças fecharam os olhos e usaram. E, pelo visto, deu certo.

Um comentário:

Camila disse...

Castelo Rá-tim-bum é um dos programas mais interessantes a que já assisti. Tem um canal que só passam essas raridades, tem cocoricó também, por sinal. Lembro que tava assistindo ao castelo, um dia, quando acabei respondendo a pergunta pra televisão, rendendo boas gargalhadas à minha irmã. Mas eu tava absorta mesmo, acho que era o choque de ver uma coisa tão boa passando impunemente na televisão.