domingo, 17 de janeiro de 2010

...minha vida clandestina

Quando eles vão dormir, eu desperto. Silenciosamente vou surgindo, com cuidado para não deixar pistas – cada uma seria uma prova em potencial. Todo ato é minuciosamente pensado e executado; é a perfeição minha aliada nessa vida ilícita.
Se a fiscalização teima em querer me surpreender, deparo-me com minha própria agilidade ao me esquivar da revista. Escondo-me. Após novo repouso dos fiscais, volto a atuar nessa vida clandestina. O sono foi trocado pela esperteza de quem espera um show, mas ali só grilos e vagalumes vem se apresentar.
A clandestinidade seduz. Não há justificativa aceitável para que tudo seja assim. Apenas sedução.
O nascer do sol vem para por fim ao mercado negro da noite. Mais um dia de sucesso: apesar dos riscos, saí em alta.

sábado, 2 de janeiro de 2010

...tempo rei

Na escrivaninha, o calendário ainda é dois mil e nove. Mas logo tomo um susto ao ver um vazio na parede da cozinha. O velho foi tirado, mas o novo calendário ainda não está lá. Um susto que se repete desde que acordei neste novo ano. Dois mil e nove se fechou rapidamente, passou num piscar de olhos, mal vi.
Várias pendências ficaram e, agora, serão resolvidas com o carimbo de uma nova década. Novos tempos dos quais não sei o que esperar. Nunca neguei minha paixão pela certeza do passado. Porém, por mais que eu queira, não tenho como voltar no tempo. Por mais que eu tente, não tenho como mudar o que passou.
Penso em brincar com o meu futuro para perceber depois os meus diferentes passados. Mas depois caio na real de que tudo será uma coisa só: a minha vida.
Ainda estou em dúvida se este é o momento para já preencher a parede da cozinha. Há certa dose de luto pelo que se cerrou no ano velho, misturada a uma preguiça de encarar um novo ano. Somado a isso, também há uma disposição de quem não quer ficar para trás. Pode parecer contradição, mas ainda luto para não me perder nesse vôo ligeiro do tempo.