quarta-feira, 15 de abril de 2009

...quem não tem cão, caça com gato

Há dias aquela parede já ameaçava cair. Estava cheia de rachaduras e buracos por onde a água da chuva penetrava. Os homens ainda faziam questão de nela se encostar. Se fosse na minha casa eu não estaria vigiando-a, consertaria logo. Mas não era. Era a parede da única cela da única delegacia da cidade, que estava sendo observada o dia todo pelo único guarda de plantão.
Sendo uma delegacia – rachada –, eram necessários vários homens para os serviços rotineiros. O único militar que havia também não era um Rambo a ponto de compensar todos os outros policiais ausentes. Mas tentava desempenhar sua função corretamente, sempre atento para que a parede não caísse e os presos fugissem.
Os presos dali também não pareciam muito motivados a fugir. Para este feito não seria necessário nem arquitetar um plano, apenas empurrar aquela desfigurada parede. Mas quem seria o louco de fugir tendo ali casa, comida e roupa lavada? Sem o mínimo esforço. Quase um lar.
Depois de uma forte chuva que atravessou a madrugada, a parede começou a esfarelar lentamente. De manhã, ainda tomando o seu pingado, o guarda notou o que estava acontecendo. Entrou em desespero. Sua reação fez surgir um debate entre os presos sobre o que deveria ser feito. A cada nova sugestão, a parede ia sendo preenchida: fita adesiva, fita gomada, grampo... Não adiantava e todos ainda se admiravam por fracassarem nas idéias.
Como que por um ato de sorte – muitos chamarão de providência divina – o delegado chegou à delegacia para sua visita semanal. O policial, ainda preocupado, expôs para seu superior a situação da parede e foi surpreendido por uma demonstração de grande inteligência, entendendo porque o outro é o chefe dali:
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