domingo, 19 de outubro de 2008

...pergunta indiscreta

Fim de ano. Chega, então, o Natal e a família, como sempre, se reúne na casa do meu avô. E é nesse local que passo a rever as figuras que nosso brasão possui. No mais recente desses encontros, aproximou-se de mim uma daquelas tias-avós solteironas que adoram se embelezar e marcam presença por já chegar puxando as bochechas dos mais novos. Comigo não foi diferente, mas, para completar, seguido do gesto – teoricamente – de carinho em minha face, ainda ouvi seu célebre e tradicional pronunciamento, algo do tipo: “Como Rebequinha está grande, já deve ter um namorado, não?”.
Até aí tudo bem, se não fosse o discurso inovado e minha querida tia-avó indagado: “Mas você vai ser o quê? Já está na idade de se decidir”. Esta frase poderia ter passado em branco, mas eu estava com o humor no pólo negativo e, neste caso, jamais deixaria de criar confusão – mesmo que interiorizada – sobre o caso.
Como assim o que eu iria ser? Eu já era algo. Ou melhor, eu sempre fui! Chego numa idade em que estou sendo bombardeada de perguntas que rodeiam todas o mesmo ponto: o que serei? Para falar a verdade, queria ter o direito de não ser nada. Ou de ser tudo. A liberdade de rodar o mundo hoje e ficar só na rede
amanhã. De poder ser médica de manhã, filósofa à tarde e mecânica à noite. Ou talvez não ser nada.
Essa pergunta deveria ser proibida ou, pelo menos, ser considerada
desrespeitosa. Perguntem minha idade, mas não relevem o que sou. Perguntem se estou apaixonada, mas não queiram saber o que serei. Afinal, eu que serei.
Minha tia, não digo por mal. Só quero que vivas tua vida que viverei a minha. Vou continuar perguntando ao mundo o que ele quer de mim e ele vai ter que dizer. Não se preocupe, em alguns desses Natais a gente se esbarra e, sem apertar minhas bochechas, a senhora
verás no que me tornei. Eu mesma.

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